Hospital Sra. da Oliveira

Um investimento na saúde mental: Hospital Sra. da Oliveira

Cada vez mais aquilo que pensamos e sentimos importa para o nosso bem-estar. São muito mais os olhares atentos à Saúde Mental, sobretudo depois de uma pandemia que tanto nos isolou e pôs à prova a resiliência dos portugueses face à distância não só física, mas principalmente emocional. 

Se a sensibilização para este tema é cada vez maior, a procura por ajuda profissional também. O Hospital da Senhora da Oliveira, em Guimarães, é um exemplo concreto: se, por semana, costumava ter entre 15 e 20 pedidos de primeira consulta nos serviços de Psiquiatria e Pedopsiquiatria, em dezembro de 2023 os valores duplicavam para 40. 

Entre outras razões, foi este aumento que motivou uma candidatura do centro hospitalar aos apoios do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), com vista à “melhoria das condições de prestação de serviços e ampliação das instalações”, diz Virgínia Rocha. Face às evidências, a pedopsiquiatra e diretora do Serviço de Pedopsiquiatria do Hospital da Senhora da Oliveira demonstra preocupação, realçando ser “necessária uma diferenciação nas intervenções terapêuticas”, que passa pela “consolidação do hospital de dia e a ampliação do internamento de Psiquiatria”. 

A candidatura ao PRR valeu ao hospital um apoio de 1.499.345 euros, que, somando aos capitais próprios, contempla um investimento total de 2.307.791,78 euros (sem IVA), preciosos para o nascimento de uma nova área dedicada à Saúde Mental. Clara Dias, adjunta da Direção Clínica do Hospital da Senhora da Oliveira, revela que o novo espaço surgiu a partir da recuperação de umas antigas instalações do centro hospitalar: “Tínhamos uma área com uma infraestrutura já construída, mas que estava completamente abandonada, uma vez que já não respondia às necessidades”. 

Figura 1: Clara Dias (esq.) e Virgínia Rocha (dir.) 

O amplo espaço serve as três valências – Psicologia, Psiquiatria e Pedopsiquiatria – e procura ter todas as condições para o melhor atendimento possível ao utente. Até à conclusão da requalificação, a diretora Clara Dias salienta que não havia uma divisão de instalações para as especialidades adequadas, desde “adultos e jovens a partilhar os mesmos espaços” ao “corredor que funcionava como sala de espera”. Mais concretamente nos serviços de Psiquiatria, as dificuldades também passavam pelo internamento de pacientes: “Nós precisávamos de 25 camas e tínhamos, na altura, 12”. 

Figura 2: Reforço da capacidade de resposta em saúde mental 

Agora, o Hospital de Guimarães tem “muito melhores condições de internamento e muito melhores condições de ambulatório”, destaca Clara Dias. Além de uma sala de espera renovada, o setor dedicado à Saúde Mental também passa a contar com “quartos de isolamento, com todas as condições de segurança”. Até ao momento, o investimento permitiu duplicar a capacidade de internamento, cuja “segurança não é sequer comparável com aquela que tinha antes, mesmo com internamentos de doentes mais complicados, que necessitam de quartos adaptados”, reforça a diretora. 

No que toca à Pedopsiquiatria, Virgínia Rocha congratula-se com “o aumento do número de gabinetes”, que permite atender mais pacientes em consulta externa. E com todas as condições para uma “atividade de observação hospitalar em regime de semi-internamento”, a pedopsiquiatra não deixa de notar que a “tendência é mesmo para melhorar e otimizar a atividade em hospital de dia”, de maneira a “diminuir o número de internamentos e o tempo de internamento” para crianças – quando necessário. 

Isto porque evitar o internamento é um dos objetivos principais na área de Saúde Mental no Hospital de Guimarães: “Era uma vontade que já tinha sido expressa, particularmente pela Pedopsiquiatria, uma vez que o nosso hospital não faz internamento nesta especialidade – e queria, obviamente, ampliar a sua capacidade de intervenção, para que não houvesse a necessidade de internar estas crianças”, explica Clara Dias. No que respeita à especialidade mais geral de Psiquiatria, a aposta no regime ambulatório – “não só de consulta, mas também hospital de dia e reabilitação” – dá maior conforto aos utentes, evitando ao máximo “condicionar a vida normal” das pessoas. 

Mas o melhor paliativo não passa só pela solução: perceber o porquê e a razão de ser nas perturbações de Saúde Mental também é uma das preocupações no Hospital da Senhora da Oliveira. Logo, não será de admirar que o apoio do PRR também proporcione vantagens únicas nos capítulos da investigação e da formação. Graças às novas instalações, o centro hospitalar conseguirá proporcionar um espaço para “diferenciar e diversificar as propostas terapêuticas”, criar grupos terapêuticos e realizar avaliações multidisciplinares, diz a pedopsiquiatra Virgínia Rocha. Com estas melhorias, também se reúnem as condições para uma proposta de idoneidade formativa ao colégio da especialidade. 

A requalificação do novo espaço para os serviços de Psicologia, Psiquiatria e Pedopsiquiatria, no entanto, não se deixou levar pela mera funcionalidade das infraestruturas. Afinal, trata-se de “uma área de eleição, em termos de beleza e de arquitetura, da forma como está projetada”, confessa Clara Dias. O projeto teve, naturalmente, a preocupação de idealizar um espaço de combate ao associado à Saúde Mental. Além do maior número de gabinetes e da nova sala de espera, o espaço exterior apresenta-se como uma mais-valia importante, uma vez que “vai ser utilizado não só de uma forma estética e aprazível, mas também como uma área de intervenção terapêutica”. 

Figura 3: Áreas de intervenção no âmbito do PRR 

“Há como que um olhar que é diferente para a Saúde Mental em todo o seu espectro etário, no sentido de lhe ser conferida a dignidade que merece. Logo, acho este espaço exemplar. O sítio, quer para os utentes, quer até para os próprios profissionais, salienta que a área da Saúde Mental pode ser uma área de eleição”, conta a adjunta da Direção Clínica do Hospital da Senhora da Oliveira. 

O trabalho deste centro hospitalar em Psicologia, Psiquiatria e Pedopsiquiatria não só não é recente, como se vê sempre de olhos postos no futuro. Em 2023, o Hospital da Senhora da Oliveira inaugurou o serviço de urgência em Psiquiatria, cuja “boa resposta” é um reflexo da postura adotada pelo centro hospitalar: “Conseguimos gerir estes doentes com menos internamento, porque somos nós que os vemos, que os acompanhamos e que já os conhecemos antes, pelo que sabemos que poderemos tratar estes casos em ambulatório e não em internamento”, salienta Clara Dias. 

Mas a intervenção não precisa de se cingir exclusivamente ao ambiente hospitalar, pelo que a diretora realça colaboração com a comunidade e diversos agentes regionais, de forma a procurar criar soluções “a montante”. Clara Dias conta que, em casos como os de Pedopsiquiatria, o centro hospitalar tem vários interlocutores identificados – associações, a Câmara Municipal de Guimarães e creches -, assim como grupos de trabalho diversificados – com médicos, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos, pedopsiquiatras –, de maneira a preparar atividades e a sensibilizar a comunidade para a Saúde Mental dos mais novos. 

E é assim, a pensar nas crianças, jovens e adultos que todos os dias acorrem ao Hospital de Guimarães, que a nova área da Saúde Mental apoiada pelo PRR aconchega aqueles que sofrem com um dos maiores flagelos da sociedade portuguesa neste século. O essencial é nunca recuar na hora de dar dignidade e de valorizar todos os que pedem ajuda: “É fazer pelo positivo”, como remata a diretora Clara Dias.