À semelhança de outros países da Europa, Portugal assiste a um envelhecimento gradual da sua população. De acordo com os dados mais recentes do INE, em 2022, o índice de envelhecimento registava mais de 185 idosos por cada 100 jovens até aos 14 anos. Ainda relativamente ao mesmo ano, a população residente em Portugal apresentava uma idade mediana de 46,8 anos, apenas ultrapassada pela Itália, com 47 anos, segundo as estatísticas da PORDATA para a União Europeia. Neste sentido, é natural que o envelhecimento ativo e saudável tenha passado a ser uma das principais preocupações na sociedade portuguesa.
Em Rio Tinto, no concelho de Gondomar, a missão do Centro Social de Soutelo “é responder às reais e legítimas necessidades da comunidade”, cuja ajuda também passa pelos mais velhos. “A grande necessidade, neste momento, é a resposta à população idosa. Então, estamos a fazer um esforço para criar essa resposta”, salienta Hélder Nogueira, coordenador de projetos de intervenção comunitária desta instituição.
Mais de 100 trabalhadores do Centro Social de Soutelo estendem todos os dias a mão a pessoas das mais variadas idades, entre serviços educativos, serviços sociais e de apoio ao idoso, projetos de integração laboral e de intervenção comunitária. Contando ainda com a atividade associativa – onde entram grupos de danças e cantares, coro e teatro -, em toda a sua dimensão, a instituição abrange quase três mil pessoas. “Há gente que entra e gente que sai, mas se fizéssemos uma retrospetiva de toda a história da associação, estaremos a falar de muitos milhares de pessoas”, reforça Daniel Vieira, coordenador geral deste centro social.
Embora a génese do Centro Social de Soutelo esteja estreitamente ligada ao apoio infantil, sobretudo nos serviços de berçário, creche, apoio ao estudo, ocupação de tempos livres e transporte de crianças, o coordenador geral explica que é nos cuidados ao idoso que têm surgido maiores necessidades. Daniel Vieira aponta que, nesta mesma área, a IPSS conta com dois centros de dia – no edifício-sede e na Praça da Corujeira, no Porto -, dois centros de convívio e ainda com um serviço de apoio domiciliário, com cuidados na alimentação e higiene.
As “listas de espera enormes, nomeadamente neste serviço de apoio domiciliário”, foram suficientes para demonstrar uma “resposta muito necessária” à população idosa abrangida pelo Centro Social de Soutelo, sublinha Hélder Nogueira. Foi precisamente com este sentido de urgência que a instituição se candidatou aos fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). O projeto idealizado incluiu a aquisição de uma nova viatura elétrica para o apoio ao domicílio e a construção de um novo edifício, de maneira a aumentar a capacidade de centro de dia e dos serviços prestados aos mais velhos.
Figura 1: Hélder Nogueira (esq.) e Daniel Vieira (dir.)
“Esta candidatura permite-nos mais do que duplicar o número de vagas que nós temos atualmente, duplicando a capacidade de resposta para o serviço de idosos”, frisa o coordenador de projetos de intervenção comunitária. A associação já tem a chave para a carrinha elétrica, pelo que, agora, a atenção está toda virada para a expansão do centro social, cuja obra deverá arrancar ainda em 2024. O novo espaço será construído no atual parque de estacionamento do edifício-sede e exigirá um investimento total a rondar os 1,5 milhões de euros, para o qual o Centro Social de Soutelo conta não só com financiamento do PRR, mas também com a injeção de capitais próprios e contribuições de outros agentes, como a Câmara Municipal de Gondomar.
Face às boas notícias, os coordenadores não conseguem esconder a expectativa quanto a um projeto que não só vai permitir “duplicar o número de respostas aos idosos”, mas que também trará “maior qualidade” ao serviço. “Vamos sair de umas instalações provisórias para instalações que têm todas as condições para este tipo de apoio”, explica o coordenador de projetos de intervenção comunitária.
Figura 2: Maquetes do futuro edifício
Apesar de este novo equipamento social ajudar a suprir muitas das necessidades atuais, Hélder Nogueira admite que o Centro Social de Soutelo ainda “não vai conseguir satisfazer” todas as necessidades das listas de espera, as quais volta a referir serem “enormes”. “Vamos duplicar a capacidade e mesmo assim não teremos resposta para a atualidade da lista de espera, principalmente no apoio ao domicílio”.
Esta emergência advém de uma nova realidade, realça o coordenador, na qual os “centros de dia já não funcionam bem como centros de dia”. Hélder Nogueira chama-lhes de “lar de dia”, embora “as necessidades sejam completamente diferentes das de um centro de dia”. Tal deve-se ao aumento da procura dos lares de idosos e residências sénior por parte das famílias, que acabam por ir ao encontro de centros de dia, como é o caso do Centro Social de Soutelo.
Figura 3: Maquetes do futuro edifício
Neste sentido, o coordenador para os projetos de intervenção comunitária não deixa de enfatizar a importância da promoção de um envelhecimento ativo, sobretudo em boa parte dos casos de apoio domiciliário, em que o idoso “não sai de casa”: “Se nós conseguirmos alargar as respostas ao nível do centro do dia, o que vai acontecer é que essas pessoas vão sair de casa, vão ter uma resposta na comunidade”.
“Envolvendo as pessoas idosas, promovendo o envelhecimento ativo”, a missão do Centro Social de Soutelo não só por adiar a necessidade de transferência para um lar, mas proporcionar o bem-estar de uma das franjas mais fragilizadas da sociedade portuguesa.