Durante dois anos, a pandemia da Covid-19 e as inerentes medidas de restrição provocaram um grande impacto no volume de comércio internacional. Entre 2019 e 2020, Portugal registou uma queda de 13% nos valores da exportação de bens e serviços, por exemplo. Posto isto, não será de admirar que a maioria dos Estados aposte no setor exportador como uma das principais vias de revitalização e aceleração do crescimento da economia no período de pós-pandemia: de 2020 para 2022, o setor exportador português evoluiu 63,5%, alcançando um volume de negócio a rondar os 194,6 mil milhões de euros em 2022, o equivalente a cerca de 80% do PIB português nesse mesmo ano.
Em Viana do Castelo, a GAMIL é um exemplo da ambição exportadora portuguesa, tendo ‘um pé’ de cada lado do rio Minho. A empresa dedica-se ao tratamento superficial de metais, sobretudo no que toca a processos de galvanização por imersão a quente em estruturas metálicas, com clientes não só em Portugal, como na Galiza. “Temos clientes desde a Corunha até Lisboa”, diz Duarte Gonçalves, diretor-geral da GAMIL – Galvanização do Minho.
No entanto, a empresa vianense chega a tocar, mesmo que “indiretamente”, em diversos mercados europeus. “A GAMIL tem clientes que estão alocados ao setor das exportações, ou seja, nós vivemos muito das exportações. Atuamos, indiretamente, em mercados como os da França, Bélgica, Luxemburgo, Inglaterra e também Suíça”, explica Duarte Gonçalves.
Figura 1: Duarte Gonçalves, Diretor-geral da GAMIL
Mas, afinal, o que é a galvanização? No fundo, pode-se dizer que é um tratamento de estruturas metálicas que passa pela ‘pintura’, com uma camada protetora de zinco, sobre superfícies como o aço ou o ferro, de modo a evitar a corrosão do material.O processo de galvanização é realizado por imersão a quente, na qual o metal é mergulhado em zinco no seu estado líquido a 450ºC.
O negócio vai de vento em popa e o diretor-geral não tem dúvidas de que há condições para continuar a expandir para outros mercados, sobretudo pela inovação em termos ambientais que a GAMIL protagoniza: “Cada vez mais a Galvanização é um tratamento com mais aplicabilidade porque pode ter uma longevidade superior a 30 anos sem qualquer intervenção. Como é óbvio, é vantajoso para o ambiente”.
Face às preocupações crescentes relativamente ao ambiente, não só em Portugal, mas sobretudo a nível mundial, Duarte Gonçalves enfatiza que o processo de galvanização acaba por se superiorizar a “tratamentos concorrentes, que, passados alguns anos, precisam de fazer intervenção, uma vez que a sua resistência é inferior àquela”. O tratamento efetuado pela GAMIL permite “proteger a estrutura exteriormente e interiormente, o que traz grandes vantagens de durabilidade”, especialmente em materiais expostos a situações em que é mais difícil combater a corrosão, como em “materiais aplicados junto à zona costeira”.
Esta aposta e as vantagens enumeradas não deixam margem para dúvidas para o diretor-geral: “O serviço que prestamos de galvanização vai ser cada vez mais utilizado em todo o mundo”. Independentemente das conjunturas de guerra ou da pandemia, Duarte Gonçalves reforça que a GAMIL tem estado numa “trajetória de crescimento” sem quaisquer travões, sobretudo no capítulo do investimento.
Ainda antes de o Plano de Recuperação e Resiliência passar para o papel, a empresa vianense já seguia uma estratégia de investimento focada em pressupostos de proteção e conservação ambiental, alinhavada sob os pressupostos da gradual descarbonização e do aumento da eficiência energética. “Tínhamos de atacar e reduzir ao mínimo todos os custos energéticos, muito antes de chegar a guerra da Ucrânia”, explica Duarte Gonçalves.
“Em 2021, fizemos uma auditoria energética, em que foram analisados, caso a caso, equipamento a equipamento, o estado de cada um, a energia que consumiam, o que é que poderíamos fazer nesse plano energético para, a longo prazo, termos eficiência energética”. Portanto, quando o PRR foi passou à realidade, bastou à GAMIL agarrar esta oportunidade de convergência de esforços para um bem comum.
A empresa de Viana do Castelo viria a receber do Plano de Recuperação e Resiliência um incentivo de 636.567,38 euros, aos quais ainda junta um investimento elevado com capitais próprios. Este investimento total dá prioridade a uma série de objetivos, como o aumento da eficiência energética, a produção de energia a partir de painéis fotovoltaicos, a superação das normas ambientais da União Europeia e ainda a realização de estudos ambientais.
Figura 2: Duarte Gonçalves, Diretor-geral da GAMIL
Até ao final de 2024, Duarte Gonçalves espera que a GAMIL aplique todos os esforços e fundos recebidos nas metas a que se propuseram na candidatura ao PRR. No entanto, já se congratula com um dos grandes objetivos cumpridos: a maior eficiência energética. Para tal, a empresa enveredou por vários tipos de ações, desde a aquisição de novos equipamentos aos novos métodos implementados para monitorizar os gastos energéticos.
“O primeiro passo foi ver tudo o que era variadores de velocidades, motores e efetuar trocas de determinados equipamentos. Depois do nosso equipamento principal, de galvanização, também fizemos alterações e aquisições de equipamentos, o que nos permitiu reduzir muito os nossos custos energéticos”, realça o diretor-geral.
No entanto, a renovação do equipamento não passou apenas pela modernização, mas também pela preocupação com o futuro: “Estamos, neste momento, preparados para gás, eletricidade e hidrogénio – podemos inserir 20% de hidrogénio. Ou seja, temos um sistema híbrido a pensar já no futuro, preparado para a descarbonização total”.
Já no que toca à monitorização, Duarte Gonçalves fala de uma “gestão técnica centralizada”, versada sob a “indústria 4.0”. Ou seja, todos os equipamentos que a GAMIL tem adquirido já estão “interligados sob um protocolo de comunicação em tempo real”, através de uma cloud. O diretor-geral fala de um processo de automação que traz inúmeras vantagens, nomeadamente quanto aos “alertas sobre excessos de consumo, necessidades de manutenção e níveis de eficiência”. Tem “um software para ver e analisar os dados , até “um alerta para uma futura avaria, numa questão preventiva”, sublinha.
No capítulo da energia fotovoltaica, Duarte Gonçalves prevê que, até ao final do primeiro semestre de 2024, a GAMIL tenha completado a colocação dos painéis fotovoltaicos. Mas com boa parte dos fundos do PRR já aplicados, o diretor não deixa de salientar a margem que se acaba por proporcionar para investimentos noutras áreas. “Estamos em plena ascensão, sem qualquer problema na hora de investir, conforme ocorreu em 2022 e em 2023, numa trajetória sustentável, exequível e sem correr grandes riscos.”
A empresa, que tem crescido ano após ano, perspetivando muito positiva para o ano de 2024. Para Duarte Gonçalves, o PRR não só trouxe vantagens competitivas à GAMIL, mas permitiu, sobretudo, “libertar verbas para a investigação e desenvolvimento”. “Estamos a caminhar num bom sentido, para uma indústria que seja mais produtiva, menos poluente e mais rentável.”
Um dos projetos mais recentes passa por alcançar “resíduos zero“ Vamos transformar o nosso principal resíduo produzido num subproduto”, começa por explicar o diretor-geral. A intenção é encaminhar e incorporar esse mesmo subproduto numa cadeia de valor, sob um prisma de preocupação humana e ambiental. Mas nesta secção de investigação, a inovação também tem o seu palco, com a GAMIL a criar e a testar novos sistemas de filtragem de gases. “Cumprimos as metas ambientais, mas já queremos estar dez anos à frente, com tecnologia de ponta”, reforça Duarte Gonçalves.
A GAMIL viu no Plano de Recuperação e Resiliência uma oportunidade inédita de convergência de esforços na estratégia de preservação do ambiente e de modernização da indústria. Os benefícios dos fundos comunitários permitiram não só “aumentar a produção”, mas também “quase duplicar o número de trabalhadores nos últimos dois anos”. Ao todo, são já 62 pessoas numa empresa que quer ser “amiga do ambiente”.