INESC-TEC é o maior instituto de investigação na área da Engenharia em Portugal”. Quem o diz é José Manuel Mendonça, presidente do Conselho de Administração. A instituição, que emprega mais de 800 investigadores mesmo ao lado da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, assume-se como uma ponte entre o conhecimento científico e o mercado, procurando proporcionar oportunidades a estudantes, investigadores e empresas.
“Privado e sem fins lucrativos”, o centro de investigação trabalha em articulação com diversos agentes do mundo universitário, nomeadamente a Universidade do Porto – na qual se incluem as faculdades de Engenharia e Ciências -, o Instituto Politécnico do Porto, a Universidade do Minho e a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. No entanto, o papel do INESC-TEC vai mais além da investigação, contribuindo com “projetos de inovação e de transferência de tecnologia”, tendo já colaborado, ao longo de décadas, com alguns dos principais atores da economia portuguesa, como a EDP, a Efacec ou a Frezite.
“Portanto, temos, na cadeia de valor da transformação de ciência em valor económico, projetos mais a montante, de ciência pura, até projetos a jusante, como contratos com empresas, lançamentos de startups ou a valorização de patentes através de licenças”, explica o também presidente do Conselho Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação.
Quando se fala em investimento, sobretudo dentro da magnitude inédita do Plano de Recuperação e Resiliência, é praticamente impossível escapar à questão da inovação. E disso são exemplo, precisamente, as Agendas Mobilizadoras para a Inovação Empresarial. No total, são cerca de 7,8 mil milhões de euros – com um incentivo público estimado em 2,8 mil milhões – investidos em 53 consórcios, compostos por 1.247 entidades, entre empresas, entidades de investigação e inovação, 87 associações empresarias e gestoras de clusters, 41 entidades da administração pública – como hospitais, câmaras municipais ou empresas públicas – e 88 demais parceiros.
Mas qual é o intuito final? “A ideia é aproveitar o PRR para estimular fortemente a capacidade de inovação, nomeadamente de inovação de base científica – ligada à investigação e à universidade -, nas cadeias de valor das empresas portuguesas”, diz o presidente do INESC-TEC.
No entanto, não é a primeira vez que a instituição participa em empreendimentos similares a este conceito. Aliás, José Manuel Mendonça explica que a génese das Agendas Mobilizadoras se encontra nos Projetos Mobilizadores, cujos consórcios já uniam universidades, centros de investigação e empresas: “Eram pequenos comparados com as Agendas – representando investimentos de até 10 milhões de euros -, em que se desafiavam os atores de um determinado setor – da têxtil, ou da aeronáutica, ou da energia, ou da floresta – a proporem o desenvolvimento de novos produtos e serviços com valor acrescentado para colocar no mercado”.
Figura 1: José Manuel Mendonça, Presidente do INESC-TEC
O êxito e impacto desses projetos encorajou o surgimento de um investimento “ainda mais musculado” e de “ainda maior dimensão”, assume o presidente do INESC-TEC. Desse modo, a ambição das Agendas Mobilizadoras continua a ser o de “mobilizar setores inteiros da economia para não só fazer atividades de desenvolvimento científico e tecnológico, mas também criar produtos e serviços com capacidade de exportação e com capacidade de transformação estrutural da economia”. Uma das grandes diferenças passa, evidentemente, pela envergadura financeira: cada consórcio envolve, pelo menos, 10 entidades e perspetiva um investimento mínimo de 50 milhões de euros.
Para José Manuel Mendonça, um dos problemas da economia portuguesa passa pelo “nível de complexificação baixo”. Apesar do “grande aumento nas exportações, que já ultrapassaram 50% do PIB” e do “grande progresso na balança de pagamentos tecnológica”, o presidente da instituição de investigação em engenharia realça que “os produtos e serviços portugueses não são suficientemente sofisticados e diferenciados para terem um maior valor”. Portanto, uma das metas das Agendas Mobilizadoras passa, precisamente, pela complexificação da economia. Como?
“Introduzindo tecnologia, contribuindo com avanços tecnológicos, contaminando as cadeias de fornecedores de componentes ou matérias-primas para um determinado produto, no sentido de sofisticar toda a cadeia de valor e não só apenas alguns dos atores. Também é preciso preocuparmo-nos com os aspetos de marketing, dos mercados e da internacionalização desde o início. Por isso é que as agendas eram pensadas com esta ambição toda: todos os parceiros relevantes de uma dada área têm de estar presentes”, resume José Manuel Mendonça.
É graças a esta visão de futuro e de inovação que o INESC-TEC está presente em quase metade das Agendas Mobilizadoras: 26. “Eu diria que, para o INESC-TEC, as Agendas tiveram um impacto muito grande. Tivemos de contratar dezenas de investigadores”, sublinha o presidente. A presença da instituição nestes consórcios, “sempre por solicitação das empresas” não é novidade, não só pela dimensão do centro de investigação, mas também pelas experiências anteriores que já partilhou com diversas das entidades com quem voltará a colaborar.
Em todas as Agendas Mobilizadoras em que o INESC-TEC participa, José Manuel Mendonça dá ênfase à dimensão dos consórcios – “com 50, 60, 100 parceiros” –, os quais conseguem “mobilizar ‘toda’ a capacidade nacional dos diferentes atores”. O presidente assume que, “obviamente, as empresas estão lá com o interesse de fazerem novos produtos, para venderem e para crescerem no mercado”. Contudo, os centros de investigação também têm as suas prioridades: “Querem desenvolver novas tecnologias, para poderem ter patentes e licenças, para produzirem artigos científicos e para formarem pessoas”.
“Ao mesmo tempo que cada um faz aquilo que está na sua missão e nos seus objetivos, o país lucra pela ambição comum e pela construção comum que as agendas irão produzir”, salienta José Manuel Mendonça. Entre as 26 Agendas Mobilizadoras em que o INESC-TEC se encontra, destacam-se projetos em áreas tão diversas como a ciência, a engenharia, a saúde, o espaço ou as comunicações. O presidente da instituição portuense destaca três: transição energética, tecnologias de produção e florestas.
Relativamente à primeira, o presidente do INESC-TEC diz ser um empreendimento ligado a “tudo o que é energia”, como as energias renováveis, as smart-grids e “todas as tecnologias importantes para a transição e eficiência energéticas”. Já no que toca à agenda das tecnologias de produção, José Manuel Mendonça destaca a cooperação impulsionada pelas empresas da indústria metalo-mecânica, que, entre máquinas e ferramentas, é o primeiro setor exportador português, que só no ano de 2023 atingiram um valor de exportações recorde: mais de 24 mil milhões de euros.
Já no campo das florestas, o representante máximo do INESC-TEC salienta a “ambição de transformar o paradigma económico, tecnológico e do valor da floresta, no sentido ecológico e sustentável, da compatibilidade entre a floresta da conservação e a floresta da produção, passando ainda pela proteção dos incêndios”.
Apesar de a interface entre a investigação e as empresas não ser um problema maior nos dias de hoje na sua opinião, José Manuel Mendonça destaca que continua a ser bastante importante a aposta em projetos que coloquem os agentes económicos, universidades e centros de investigação em constante colaboração, sobretudo num ecossistema que diz ainda estar constrangido por “problemas de burocracia” e pela “falta de capacidade de investigação na maioria das empresas”.
É um caminho que “não está completo, não está perfeito”, mas isso “não nos deve assustar”, defende. Para tal, o José Manuel Mendonça realça a importância da aposta do INESC-TEC e de tantos outros polos de investigação em Portugal, que primam pela inovação e desenvolvimento tecnológico não só ao serviço da ciência, mas também da sofisticação e valorização da economia do país.