A digitalização da economia, tem permitido uma maior integração entre empresas e o desenvolvimento de novos modelos de negócio, num contexto atual de mutações rápidas e imprevisíveis originadas pelo mercado, pela tecnologia, por questões sanitárias, ou mesmo por fatores geopolíticos. Reforça-se ainda que, as circunstâncias recentes da pandemia realçaram a necessidade de as empresas adotarem tecnologias digitais para que possam assegurar a continuidade da sua atividade e a prestação dos seus serviços por via digital.
No que respeita à integração das tecnologias digitais nas empresas, Portugal encontrava-se posicionado no 16.º lugar do Índice de Digitalização da Economia e da Sociedade (Digital Economy and Society Index – DESI 2020), com uma pontuação global abaixo da média. Neste indicador destaca-se a percentagem de PME que vende online, abaixo da média da União Europeia, revelando que as PME portuguesas são em média menos ativas digitalmente que as suas homólogas europeias. Este aspeto é particularmente relevante se tivermos em consideração que a economia portuguesa é maioritariamente composta por microempresas em setores tradicionais, com menor capacidade para assumirem investimentos em tecnologia e em recursos humanos com o perfil necessário à sua penetração no mercado online.
Essa é uma das razões pelas quais a Comissão Europeia incluiu nas prioridades dos fundos europeus, apoiar a integração de tecnologias digitais nas empresas e nos processos produtivos das micro, pequenas e médias empresas. A Componente 16 Empresas 4.0 do PRR vem responder a estes desafios em três linhas de atuação.
1º Promovendo a qualificação digital dos ativos empregados, capacitando desta forma os colaboradores das empresas para a integração das tecnologias digitais nas empresas. Para este fim contribuem as medidas Academia Digital e Emprego +Digital que irão qualificar cerca de 1 milhão de trabalhadores.
2º Promovendo a transição digital das empresas, apoiando-as na integração de tecnologias digitais nos seus negócios, com particular atenção para a necessidade de fornecer assistência técnica especializada no diagnóstico de necessidades e na integração dessas soluções. Nesta medida existem vários focos e medidas ajustadas a cada objetivo:
Na área do comércio os bairros digitais permitirão criar uma presença digital para a oferta comercial de 50 centros urbanos, e serão criadas 25 aceleradoras de comércio que irão promover apoio técnico no diagnostico das necessidades e disponibilizar as soluções digitais a 30.000 empresas permitindo que evoluam na sua maturidade digital.
Ao nível do comércio eletrónico a AICEP irá prestar assistência à internacionalização via e-commerce de 1.500 empresas permitindo que estas acedam também a apoios para suportar os investimentos necessários nesta área.
Na área do empreendedorismo será efetuado um investimento na capacitação digital de 400 incubadoras e aceleradoras e incentivada a criação de 3.000 novos produtos verdes e digitais por start-ups, permitindo dessa forma fornecer novas soluções ao mercado e criar uma nova vaga de empresas com modelos de negócio suportados no digital.
Ainda na área do desenvolvimento de novos produtos, serão apoiadas 30 Test-beds que serão empresas ou grupos de empresas que irão disponibilizar infraestruturas e capacidade tecnológica para prestar serviços a PME e a start-ups para o desenvolvimento e teste de 3.600 novos produtos e serviços, com uma forte componente digital e/ou de simulação virtual/digital associada. O objetivo será acelerar a sua produtização, industrialização e comercialização e o seu processo de transição digital, seja via um espaço físico ou virtual.
Para a incorporação de tecnologias ligadas à industria 4.0 serão ainda apoiadas 4.000 empresas na aquisição de soluções digitais adaptadas às suas necessidades.
3º Promovendo a catalisação digital das empresas, através de uma rede de 17 Polos de Inovação Digital com foco em Inteligência Artificial, Computação de Alto Desempenho e Cibersegurança, que irão apoiar 4.000 empresas na procura e teste de soluções digitais, na formação em tecnologias digitais e na procura de financiamento para a sua transição. Também a este nível pretende-se disseminar soluções de faturação eletrónica e criar e certificar as boas práticas digitais das empresas nas áreas da cibersegurança, usuabilidade, provacidade e sustentabilidade.
Desta forma pretende-se atuar nas empresas e áreas que apresentam maiores lacunas na área digital usando redes de apoio e inovação que ajudarão estas empresas a evoluir na sua transição, com impacto esperado em mais de 46 mil empresas.
Pedro Cilínio
Diretor de Investimento para a Competiividade Empresarial – IAPMEI